quinta-feira, 24 de março de 2011

Contos - contribuição na formação da personalidade humana


Príncipe Ádil e os leões

Essa história fala do medo, próprio e inerente em nós seres humanos.

Príncipe Adil e os Leões

Havia um rei muito poderoso que se chamava Azad. Ele tinha um único filho, o príncipe Adil, que tinha acabado de completar 18 anos. Logo depois de seu aniversário o rei mandou chamá-lo à sua presença, para que lhe fosse anunciada uma notícia muito importante.
Quando chegou á sala do trono, o grão-vizir lhe disse que sempre havia sido costume na sua família, que o herdeiro do trono, ao fazer dezoito anos, deveria passar por um teste, para provar que poderia ser um bom governante.
O príncipe seguiu seu pai e o grão-vizir até uma cova, que ficava numa rocha distante do palácio. Nele havia uma porta com uma grade. O príncipe olhou através da grade e viu lá dentro, ao fundo, um enorme leão.
Ao vê-lo o animal levantou-se e soltou um rugido de fazer estremecer as paredes. No chão da caverna havia uma quantidade enorme de ossos.
- O que significa isso?- perguntou Adil com muito medo.
-Sua prova é enfrentar esse leão, disse o rei, como todos os seus antepassados fizeram antes de você, para serem dignos de herdar o trono.
O príncipe empalideceu e mal conseguiu falar:
- Enfrentar esse monstro? Como poderei fazer isso? O máximo que consegui até hoje foi matar um antílope não muito grande. Eu tenho certeza que um leão deste tamanho e com toda essa força é um desafio maior que eu, disse o príncipe quase sem voz
- Não se preocupe, disse o grão-vizir. Você não precisa fazer isso agora. Um dia você poderá enfrentá-lo, quando estiver pronto, não há pressa.
Em seguida surgiu um escravo que jogou um naco de carne para o leão, que o devorou imediatamente.
Depois disso Adil já não era mais o mesmo, ainda que seu pai não tocasse no assunto da prova e o tratasse com a consideração de sempre, ele não conseguia parar de pensar no assunto e não tinha mais alegria de viver. Pensava dia e noite na tarefa que tinha que cumprir e achava que tinha que realizá-la o mais rápido possível.
Até que ele não agüentou mais tamanha ansiedade: numa noite, depois de virar e revirar-se na cama, sem conseguir dormir, ele se levantou, vestiu-se , encheu uma bolsa com muitas moedas de ouro e foi até o estábulo. Acordou seu fiel escudeiro e pediu-lhe que selasse o seu melhor cavalo e que avisasse o rei seu pai, que ele havia partido para uma longa viagem.
Depois ele seguiu pela noite enluarada, atrás de uma solução para seu terrível problema. O príncipe nunca havia saído de seu reino e , à medida que se afastava dele, por estradas desconhecidas, foi encontrando lugares que nunca imaginou que existissem.
Ao amanhecer, chegou a uma paisagem muito bela, onde havia um rio e prados verdejantes às suas margens. Enquanto seu cavalo bebia água, o príncipe começou a ouvir um doce som de flautas, que eram tocadas por pastores enquanto cuidavam de seus rebanhos. Adil perguntou a um deles onde poderia passar aquela noite e foi levado ao dono daquelas terras conhecida como a Terra dos tocadores de flautas celestiais.
Harum era seu nome e ele morava numa bela casa muito espaçosa e agradável.
Recebeu o príncipe com grande hospitalidade e foi logo perguntando:
- De onde você vem , meu rapaz?
Adil respondeu com evasivas, dizendo que estava buscando solução para uma questão pessoal e por isso tinha viajado, mas não queria falar no assunto.
Harum disse que ele poderia ficar em sua casa quanto tempo fosse necessário e que ali se sentisse à vontade.
Aquele espaço, a casa, os campos ao redor eram tão agradáveis que o príncipe pensou que poderia passar um bom tempo por ali.
Todos os dias ele passeava pelos arredores descobrindo lugares encantadores e ouvindo o som das flautas dos pastores.
Numa noite quando já havia se recolhido ao seu quarto, o príncipe ouviu rugidos de leões, não longe da casa. Na manhã seguinte, apavorado, perguntou a Harun se por acaso havia algum tipo de leão naquela região.
-Ah sim, respondeu ele calmamente. Este lugar está infestado de leões. Eles saem das suas tocas a noite pra caçar, como você ainda não os tinha notado? Por isso mandei construir esse muro enorme em volta da casa, para proteger a minha família dessas feras. Harun dizia isso dando risadas, como se isso fosse divertido.

Imediatamente, com muito medo o príncipe preparou seu cavalo para partir. Despediu-se de Harun agradecendo e saiu galopando pelo caminho, o mais rápido que podia
Depois de um bom tempo de viagem, chegou a um deserto que não parecia ter fim. Arbustos baixos e secos apareciam de vez em quando, em meio a um vento fustigante que levantava uma poeira insuportável. Adil sabia que precisava logo encontrar água para ele e seu cavalo, pois não sobreviveriam muito tempo àquelas aguras. Ele fez uma prece , pedindo para que pudesse chegar a um oásis.
Como resposta a sua oração, ele viu ao longe no horizonte um acampamento beduíno de tendas negras. Os guerreiros se aproximaram e o saudaram gritando “Asalaamawaliekum”!

Adil foi levado por eles até o sheik, que o recebeu calorosamente, dizendo-lhe que sentia honrado em recebê-lo e que ele poderia ficar ali quanto tempo desejasse.
O chefe guerreiro ofereceu-lhe uma suculenta refeição de carneiro cozido, arroz com especiarias, figos e tâmaras muito doces. Enquanto conversavam o sheik perguntou-lhe qual o motivo de sua viagem.
_Só posso dizer que deixei a minha casa par resolver um problema pessoal, para poder pensar melhor até perceber que está na hora de voltar.
O sheik sorriu e lhe disse olhando-o com seus olhos penetrantes:
- É o tempo que nos dá todas as respostas, se tivermos paciência.
Os dias foram passando e o príncipe estava muito feliz. Achou que poderia ficar ali para sempre.
Um dia, depois de um bom tempo entre os beduínos, o velho sheik lhe falou:
- Meu filho, somos guerreiros e temos que lutar com outras tribos. É preciso ser muito valente para viver entre nós. Gostamos de você e apreciamos a sua companhia. Se quiser permanecer conosco, no entanto gostaríamos de submetê-lo a um teste em que nos mostrasse a sua capacidade guerreira. Está vendo aquelas montanhas no horizonte? Pois lá existem muitos leões. Basta que você mate um deles e traga-nos a sua pele, para que seja imediatamente aceito como um dos nossos.
Adil pôs-se a tremer de pavor e deu uma desculpa ao sheik, falando que tinha que partir com a máxima urgência.
Enquanto abandonava o acampamento, ele disse para si mesmo.
Meu Deus, não consigo entender por que encontro leões em qualquer lugar para onde vou. Pois deixei o palácio do meu pai para evitá-los.

Viajou por muito tempo pela noite cheia de estrelas. De manhã chegou a uma bela região onde as flores cresciam à beira da estrada, por toda a parte.
Ao longe avistou um magnífico palácio, o mais belo que ele já havia visto. Era feito de uma pedra rosada, com colunas de lápis-azúli e balcões de madeira esculpida e pintada de várias cores. Havia fontes nos jardins à sua volta, pássaro de todas as cores, imponentes pavilhões em que se sentia o delicioso perfume de jasmins e rosas.
- Esse lugar parece um paraíso na terra!- disse Adil para si mesmo enquanto se aproximava do palácio.
Chegando aos portões, o príncipe foi conduzido pelos guardas a um suntuoso quarto de hóspedes, onde servos gentis o esperavam com um banho aromático e roupas novas sobre a cama.
Mais tarde foi levado até o Rei, um nobre homem barbudo que lhe perguntou porque estava viajando.
- Minha situação é muito delicada, tanto que não gostaria de falar dela- respondeu o príncipe um tanto constrangido. Eu deixei meu país com um problema que preciso resolver. Eu entendo disse o rei respeitosamente.
Nesse momento uma porta se abriu e dela surgiu a mais bela jovem que o príncipe já havia visto. Era a princesa Peri Zade, filha do rei, que tinha lindos olhos amendoados e um cabelo negro como a cauda de um pássaro. Adil ficou completamente encantado por ela.

Depois da refeição o rei convidou Adil para percorrer toda extensão do palácio. Tudo naquele lugar era lindo e feito com tanta arte e bom gosto que parecia obra de mãos celestiais.
Admirando aquele esplendor a sua volta o príncipe achou que pudesse viver ali para o resto de sua vida.
Muitos dias se passaram. A princesa Peri Zade dedicava-se a mostrar para Adil os jardins em várias horas diferentes. Um dia ao entardecer ele a ouvia cantar e tocar alaúde quando escutou um som que o deixou paralisado.
- Que ruído foi esse? Ele perguntou interrompendo a música?
_ Foi ali perto daqueles arbustos, parecia um rugido de um leão.
Ela sorriu e lhe disse:
- Ora é só Rustum, nosso guardião, como o chamamos. É nosso animal de estimação. A essa hora ele vigia nossos jardins e a noite ele dorme na porta do meu quarto.
- Desse momento em diante o príncipe não teve mais sossego e no jantar quase não tocou na comida. Quando subiu as escadas, acompanhado pelo Rei, levou um enorme susto com o leão parado à porta do seu quarto.
- Pode-se sentir honrado- disse o rei-, Rustum está tomando conta da de seu quarto. Ele não faz isso com muita gente, pode ficar tranquilo que ele é manso.
- Pois estou com medo dele assim mesmo, respondeu Adil envergonhado.
Entrou no quarto rapidamente e é claro, não conseguiu dormir a noite inteira.
Pela manha começou a pensar em voltar para casa já que havia tantos leões no seu caminho. Seria melhor acabar com esse sofrimento, enfrentar o leão em vez de ficar fugindo a vida toda.
Decidido foi falar com o Rei e lhe disse:
-Peço permissão para voltar e cuidar do meu problema à minha maneira, só assim voltarei a estar em paz comigo mesmo. Tenho agido como covarde, e quero deixar de fazê-lo pela honra de meu pai. Sou filho do rei Azad e fugi do dever que todos os homens da minha família devem realizar.
Agora sinto vergonha e sei que nunca poderei pedir a mão da princesa Peri Zade enquanto não lutar com o leão naquela cova.
- Muito bem falado meu filho, disse o rei. Desde o primeiro momento eu soube quem você era, pois você se parece muito o seu pai quando jovem. Sempre respeitei e admirei o Rei Azad. Vá lute com o leão que eu lhe darei a minha filha em casamento.
O príncipe montou no seu cavalo e galopou de volta para casa pelo mesmo caminho. Quando passou pelo acampamento beduíno o sheik lhe disse:
-Que bom vê-lo príncipe Adil, fui amigo de seu pai quando éramos jovens, eu logo soube quem você era pela enorme semelhança entre vocês. Aliás, e´ muito maior agora do que no dia em que você chegou aqui.
Adil contou o porque estava voltando para casa e o sheik ficou satisfeito.
Logo que chegou na terra dos tocadores de flauta celestiais, encontrou Harum e saudou-o dizendo:
- Quando cheguei aqui pela primeira vez, eu me comportei como um covarde. Agora estou pronto para lutar e fazer o que os meus antepassados fizeram, seja qual for o resultado.
- Muito bem disse o velho homem- Seu pai e eu fomos companheiros quando tínhamos sua idade. Eu sempre soube quem você era e sendo filho dele na hora certa resolveria o seu problema.
Chegando em seu palácio Adil pediu ao seu pai e ao grão vizir que o acompanhasse até a cova do leão, o velho rei o abraçou e o três seguiram para a caverna.
Com uma espada na mão e uma adaga na cintura o príncipe abriu a porta gradeada e entrou, corajosamente. O leão estava lá no fundo e assim que o viu levantou a cabeça e andou na sua direção. Adil foi ao seu encontro e quando tocou na espada para apunhalá-lo ele simplesmente começou a esfregar a cabeça contra o seu joelho, lambendo suas botas.
- O que significa isso? Perguntou Adil
- Como você pode ver ele não faz mal a ninguém- disse o grão vizir. Seu teste era enfrentá-lo sem medo e isso você já fez e agora é digno de ser nosso futuro rei.
Adil mal pode acreditar naquilo, quando voltou ao palácio o leão o seguiu andando ao seu lado.

Todo o reino comemorou a notícia do sucesso do príncipe.
Quando Adil reveleou a seu pai o amor que sentia pela princesa Peri Zade o rei mandou buscá-la.
Depois de um tempo, que pareceu uma eternidade para Adil, a princesa chegou em seu cavalo branco , com uma magnífica comitiva, todos vestidos ricamente para a festa de casamento.
Durante sete dias e sete noites as pessoas comemoraram o casamento de Adil e Peri Zade.
Eles foram muito felizes, Adil tornou-se rei, e no chão do quarto em que costumava estudar ele mandou escrever com letras de ouro: Nunca fuja do leão


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